terça-feira, 12 de maio de 2009

Aos poetas noturnos, poesia!

Canção de alta noite

Cecília Meireles


Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar... - enquanto consente
Deus que a noite seja andada.

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.

sábado, 9 de maio de 2009

Uma mensagem diferente para o dia das Mães!

Recebi de uma grande e querida amiga, a Yuri, e compartilho aqui com vocês.


Maternar,
Uma Questão Cultural

Haidi Jarchel

No mês de maio celebra-se o Dia das Mães na cultura ocidental. A mídia se encarrega de propagar este dia por todos OS lados e o comércio espera ansiosamente por esta data. Vocês sabem a origem deste dia? Desde quando se celebra e por quê?

Em nossa cultura ocidental herdada e influenciada parcialmente por brancos europeus, recebemos valores patriarcais, onde homem e mulher têm papéis e espaços diferenciados a partir de uma hierarquia, cuja "cabeça" é o homem. Às mulheres cabia o espaço DA Casa e o cuidado dos filhos predominantemente. Este esquema foi parcialmente rompido em algumas etapas DA história e em algumas regiões. O papel de mãe tem oscilações na história.

Sublinho estas diferenças culturais, porque "ser mãe" e "maternar" (cuidar das/dos filhas e filhos) são diferentes de cultura para cultura. Em sociedades indígenas e africanas, por exemplo, a maternagem é mais coletivizada, não recaindo toda a responsabilidade apenas para a mulher que pariu as crianças. Divide-se a responsabilidade deste ato cultural entre as mulheres ou também entre OS homens. Criar e educar filhas e filhos é um ato cultural! Na sociedade ocidentalizada e moderna, desde o início do capitalismo, este ato cultural ficou totalmente reduzido à mulher que pariu e se tornou um fardo pesado e desumano. Maternar durante 24 horas, durante vários anos, esgota as energias de uma mulher que se dedica ininterruptamente a esta tarefa.

Este jeito de ser mãe que conhecemos como o "modelito" em nossa sociedade moderna coloca esta tarefa como "dom" natural das mulheres, como se em todos OS quatro cantos do mundo e em toda a história fosse desta forma. Esta compreensão foi reforçada no final DA segunda guerra mundial e a "valorização" das mães, juntamente com o "Dia das Mães" vem desta data, declarado no princípio dos anos 40 deste século, na Europa, por países envolvidos na segunda guerra mundial. Pretendia-se, com essa valorização DA maternidade, levar as mulheres a assumir seu velho papel de dona-de-Casa e mãe dedicada, reajustando novamente o papel de mulheres e homens pelo padrão patriarcal. Este papel romantizado de mãe foi reforçado pela psicologia pós-guerra, trazendo Grande culpa para as mulheres que se afastassem de seus filhos para trabalhar for a de Casa. A psicologia DA culpa que tanto conhecemos... Este papel romântico de mãe nunca funcionou com mães empobrecidas no Brasil e em outros países, as quais sempre tiveram que trabalhar for a de Casa para sustentar OS seus filhos.

Sabendo DA história desta data e DA atual situação DA maioria das mães brasileiras temos pouco motivo para celebrar este dia... Creio que precisamos resignificar este dia para nós! Podemos tornar este dia num dia de reflexão, de protesto, de silêncio, de memória das tantas mães que morrem no parto, enfim, algo que possa desmascarar as motivações DA criação deste dia e de como esta data é explorada pelo comércio. Ser mãe nessa sociedade não tem nada de romântico! A maternidade pode ser um ato de amor ou desamor também, acrescido de muito trabalho, de muitas horas extras, de muita solidão... Esse jeito de ser mãe nesta sociedade sacrifica as mulheres, porque está apoiado num modelo de maternagem muito solitário, individualista e egoísta.

A concepção de maternidade nas culturas arcaicas andinas (AL) é compreendida a partir DA Mãe-Terra: PACHAMAMA. Um modelo de maternidade integrador com todos OS elementos criados, em equilíbrio, como fonte de criação, de vida plena, de vida fluindo e se transformando e se misturando com o todo, de tal forma que não se distingue a criação DA criadora, porque tudo esta integrado e interdependente do todo.